Sunday, August 05, 2007

A Semeadura da Palavra

Na minha experiência como pregador do Evangelho e expositor da Palavra de Deus, um estilo literário que me fascina sempre é o estilo das parábolas. Elas estão presentes no Antigo Testamento, mas, é no Noto Testamento, em especial nos discursos do Senhor Jesus que elas aparecem muitas vezes. E como podemos ver nos v.2,11 e 12 as parábolas foram utilizadas por Cristo para instruir Seus discípulos, mas, “...aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas, para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles”. Essa declaração causa certa estranheza ao nosso coração, especialmente, porque é difícil concilia-las com o caráter amoroso do nosso Senhor Jesus.
Primeiramente, para resolvermos esse impasse, precisamos entender quem são os “de fora” mencionados por Jesus. Quando Jesus mencionou os “de fora” referia-se num sentido mais restrito aos fariseus e escribas, que apesar de serem conhecedores da Lei e até doutores, não conseguiam compreender o simbolismo de uma simples parábola, justamente, por causa da incredulidade deles para com Jesus. Num sentido mais abrangente, os “de fora” são todos quantos não crêem em Jesus, a despeito da clareza e simplicidade da mensagem do Evangelho.
Em segundo lugar, precisamos admitir que “o mistério do reino” (v.11) é dado a conhecer somente àqueles a quem o Senhor quer dar a conhecer. É importante destacarmos que é o Senhor quem dá (ou não dá) a conhecer a quem Ele quer.
Voltando nossa atenção à parábola desse texto, podemos constatar que ela aparece com sua explicação de forma muito clara, o que nos leva a evitar a fatídica tendência que se tem em interpretar os detalhes de uma parábola e esquecer o ponto central da mesma.
O ponto central dessa parábola diz respeito à pregação da Palavra. Erroneamente, os editores colocaram um título que não faz jus ao ensinamento principal dessa parábola. Por isso prefiro o seguinte título que apresenta com mais clareza o ensino central dessa parábola: A Semeadura da Palavra, sobre o que haveremos de meditar nesta ocasião.
Quero concentrar-me em dois aspectos dessa parábola, tendo em vista que a mesma por si só dispensa qualquer explicação dos seus pormenores, pois Cristo já o fez.

1) Os inimigos da semeadura da Palavra, v. 15-19.
“O semeador semeia a palavra” (v.14). Quem é o semeador? Para não incorremos nos risco de sermos reducionistas em nosso pensamento, afirmamos que “o semeador” é todo servo de Deus que Lhe é obediente, que sabe que tem o dever e o privilégio de ser um pregador do Evangelho e anuncia-lo aos demais pecadores.
Dessa forma, quando um servo de Deus anuncia o Evangelho (“o mistério do reino”), este cai como sementes lançadas em vários tipos de solo. Aqui no texto são listados quatro tipos de solo: (1) o da beira do caminho, (2) o rochoso, (3) o espinhento, (4) o de boa terra. Estão em questão aqui os três primeiros tipos de solo; o quarto tipo ficará para o próximo ponto dessa mensagem.
O primeiro inimigo é Satanás. A Palavra que cai no solo à beira do caminho, é comida pelos pássaros (v.4) que simbolizam aqui Satanás (v.15). Satanás não tem poder, autoridade e liberdade para agir como quer. Ele sempre é cerceado por Deus em suas atividades malignas. Mas, quando um coração se mostra insensível para com a Palavra de Deus, que apenas escuta, mas, não atende e nem obedece à Palavra, torna-se presa fácil para Satanás, que incute em seu coração incredulidade.
O segundo inimigo é superficialidade na fé. O Senhor Jesus aponta aqui para aquelas pessoas que abraçam a fé num primeiro momento, com muita alegria. De fato, a alegria é o primeiro sinal de que alguém abraçou a fé em Cristo. Mas uma fé que tenha somente a alegria como base corre sério perigo. A fé precisa lançar raízes profundas por meio da constância na busca do conhecimento de Deus. Uma pessoa que se satisfaz com apenas as mensagens dominicais, que não investe seu tempo na leitura e estudo da Palavra, que não desenvolve uma vida de oração sincera e apaixonada, e que também não põe em prática o que aprendeu, corre o risco da superficialidade. Bastarão as primeiras tribulações, as primeiras lutas e “logo se escandalizam” (v.17), ou seja, tropeçam.
O terceiro inimigo é preocupação. O solo espinhento aqui indica aquela pessoa que se vê gananciosa, avarenta, tomada por desejos carnais. Tudo isso gera no coração dessa pessoa uma preocupação avassaladora. “Os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições”, disputam, concorrem com a Palavra de Deus pela atenção do coração humano. Os resultados que essas coisas prometem são chamativos, porém, transitórios; o que a Palavra de Deus nos promete é eterno. O que a Palavra de Deus nos promete não tem nenhum imediatismo, antes, nos ensina a esperarmos o tempo de Deus, mas, sempre vale a pena.
Todos esses tipos de solo simbolizam o coração humano. Além disso, é importante lembrar, que esses inimigos não são os únicos responsáveis pelo prejuízo causado. A responsabilidade recai sobre cada coração que se mostra insensível, superficial e preocupado.

2) A boa terra, v.20
O quarto tipo de solo descrito pelo Senhor Jesus Cristo, é o da boa terra. Aqui o Senhor Jesus retrata o coração que é receptivo à Palavra. Podemos dizer que ele é uma antítese dos outros três tipos de solo. Ele tem como característica principal o ser produtivo e fértil. Para isso:
Ele é crente e sensível à Palavra. Recebe a Palavra de Deus com fé, completamente o oposto do coração representado pelo solo da beira do caminho que está tomado pela incredulidade e insensibilidade.
Ele tem profundidade na fé. O coração simbolizado pelo solo rochoso é superficial, é fútil. Suas raízes lembram as palavras do profeta Jeremias 17.8: “Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto”.
Ele é perseverante. O melhor remédio para a preocupação é a perseverança. A Palavra nos manda priorizar o Reino de Deus. Aquele que põe Deus em primeiro lugar em seu coração frutifica. Uma vida espiritual frutífera trilha os caminhos da obediência, perseverando na presença do Senhor e cuidando para que seu coração não seja atraído, iludido e fascinado pelos “cuidados do mundo fascinação das riquezas, e demais ambições”. Narrando a mesma parábola, Lucas afirma que os corações simbolizados pelo solo espinhento até produzem frutos, mas, “os seus frutos não chegam a amadurecer” (Lc.8.14). Ao contrário, os corações que são simbolizados pela terra boa, são perseverantes na frutificação “estes frutificam com perseverança” (Lc.8.15). Falando aos Seus discípulos, o Senhor Jesus disse: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça” (Jo.13.16).

Conclusão
Olhando para esta parábola, com qual tipo de solo seu coração se identifica? Você ouve a Palavra de Deus, mas, seu coração permanece insensível e incrédulo? Ou você recebeu a Palavra com tanta alegria, mas, esqueceu-se de que é necessário lançar raízes profundas para suportar as lutas e provações sem esmorecer na fé? Ou você começou a frutificar, mas seu coração abandonou os frutos quando estes ainda estavam verdes e aos poucos você os trocou por coisas do seu próprio interesse? Pela misericórdia de Deus, rogo que o seu coração seja o que é representado pela boa terra, pois só assim você saberá que o “mistério do Reino” também foi revelado a você e que agora você faz parte do Reino de Deus.

Sermão proferido em São José dos Campos, 05/08/07
Pr.Olivar Alves Pereira

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